sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Algumas observações sobre o epônimo 'Santa Luzia' para a nossa cidade

Fonte: Blog do Luís Magno Alencar

Apesar de haver controvérsias relacionadas ao nome de Raimundo Rodrigues dos Santos, o Codó, quanto à sua primazia no Vale do Paruá, mas não há como a história local negar que este áureo pioneiro cinqüentista deixou importantes legados em nossa plaga.

Estátua de Santa Luzia
Um destes legados foi o que se refere à devoção católica, incutida pelos séculos adentro nas almas sertanejas que se aventuraram em marcha pelo Nordeste de nosso país buscando um futuro melhor para si e os seus. Codó foi um caxiense de raça cabocla, acostumado com a cultura das florestas, desbravador de novos horizontes, aos qual um lhe deu-lhe a alcunha que o eternizou: o vulgo “Codó” pelo qual é mais conhecido, por ter ele passado pela cidade maranhense deste nome.
A experiência de sua vida desbravante, ora em um lugar ora em outro, o especializou ao habito da caça, mas também foi ‘cassaco’ na construção da Rodovia Federal Pedro Teixeira (BR-316), ocasião em que arquitetou sonhos, o de ter sua própria povoação_conseguiu, por certo_ foi o “Pai do Tracuá”; o seu temor a Deus, que o deixara translúcido nas devoções atípicas de sua religião católica, tudo isso o levou ao lisonjeio de todos aqueles que agora prestam tributos em sua homenagem. Raimundo Rodrigues dos Santos foi o pioneiro que fundou o Tracuá, núcleo cardinal do que hoje é a nossa cidade de Santa Luzia do Paruá. Ser primeiro a chegar talvez tornariam chulas as razões para venerá-lo, por isso, Codó foi mais, deu-nos o consentimento Ka’apor para um assentamento de posseiros dentro de suas terras, nomeou lugares e transmitiu-nos sua devoção católica.
O pioneiro "Codó"
Uma pergunta desafiou muitos de nós luzienses até certo tempo, e só agora respondida: “Por que então Santa Luzia para nome de nossa cidade e não o de Tracuá?”
A resposta para esta controvertida pergunta só poderia está em “Codó”, o pioneiro cinquentista que fundou o antigo povoado de Santa Luzia. Um dos nomes dados por nosso primaz pioneiro tinha sido o de Tracuá, palavra que vem tupy e significa “formigas”; mas o nome de Santa Luzia também surgiu sob nomeação de "Codó", sendo o povoado chamado pelos dois nomes, quase que concomitantemente: Tracuá, por que era uma homenagem aos índios locais, os Ka’apor, que lhes dera permissão de fincar-se em suas primitivas matas sem nenhuma resistência e Santa Luzia por ser esta a sua santa de devoção, a iluminadora, a santa dos olhos, aquela que nos protege contra os males da visão, o que não poderia ser mais sugestivo em um tempo tão obscurecido por tantas dificuldades envolvidas no início do povoado, embrenhado na selva, em que a dúvida convivia a todo tempo com o medo, longe da civilização e próximo aos selvínculas Ka'apor, “amistosos” vizinhos da família de "Codó". O nome Santa Luzia veio primeiro, desde 13 de dezembro de 1959, quando o padre Adolfo, da Igreja Católica Brasileira de Pinheiro (Diocese de Viana), a convite de “Codó”, entre algumas dezenas de almas pagães indígenas e a família de Codó, celebrou uma missa que sacramentou para sempre o nome de Santa Luzia em nossa história, era o Prmeiro Festejo de Santa Luzia, banqueteado com os primeiros frutos da roça de "Codó" e completado com as caças do mato, providenciadas pelos índios. Já o nome Tracuá, veio de um incômodo causado por algumas formigas graúdas que afligiam o pioneiro à beira de um rio que, por causa do ocorrido, ganhou o mesmo nome, cujas águas derramam no Paruá.

Foi um desejo de “Codó”, até seu último momento de vida, em 11 de junho de 1986, que a obra pioneira do povoado que fundara, se chamasse Santa Luzia do Tracuá, juntando-se os dois nomes que vieram de sua autoria. Ademais, tal opinião é lógica, pois há neste caso a convergência do fato de ter sido ao redor do rio Tracuá (e não do Paruá) que nasceu o núcleo principal da cidade atual e as margens do qual se celebrou a dita missa inaugurante do nome pelo qual o povoado também passaria a ser chamado. Respeitando-o como o “Pai do Tracuá”, alguns que compunham a classe política do povoado, tenderam em parte este pedido, conservando o nome da Santa de devoção de "Codó", mas acrescentando o nome do maior rio das adjacências, o Paruá, onde deságua o pequeno Tracuá (afluente e subafluente do Rio Turiaçu). Vale recordar também que o nome oficial de nossa cidade, reconhecia uma das principais bases na luta pela emancipação de Santa Luzia do Paruá: A Igreja Católica. Como se comprova no Livro de Tombo da paróquia, a atuação espiritual, aliada, principalmente às lutas sociais desta agremiação cristã, por meio dos Padres Combonianos, foram imprescindíveis e de grande eficácia, tanto que até a primeira bandeira municipal trazia o ícone de Santa Luzia como representação cívica e simbólica de nosso município, de 1988 a 2005.
Pode-se chamar bastante atenção ao fato de a devoção e do nome de Santa Luzia ser introduzido por “Codó”, não com uma missa com um sacerdote da Igreja Católica Romana, mas com um padre da Igreja Católica Brasileira. No entanto, para o nosso pioneiro, bem como para alguns fiéis daquela época e de hoje, não havia distinção entre os ritos litúrgicos das duas igrejas, que são separadas juridicamente, o que para a história não é um detalhe relevante, pois o que valeu na ocasião foi o ato de fé, no início da evangelização cristã no Vale do Paruá, e por fim, o significado do evento para a historiografia local.
A devoção a Santa Luzia, foi assumida por outros pioneiros, sessentistas e setentistas, que, por iniciativa
própria, chamaram os padres missionários combonianos e franciscanos para celebrarem missas no povoado que crescia rapidamente. A primeira missa da Igreja Católica Romana aconteceu sob o convite destinado a um frei, que residia no povoado de Zé Doca, frei Mário Griol-OFM (Ordem dos Frades Menores Conventuais). O convite foi feito por Dona Maria Braga (irmã do Sr. Manoel Leôncio) e seu esposo “Zé Vaqueiro”, endereçado à Província Franciscana no Maranhão, hoje sediada na cidade de Bom Jardim. Tal convite foi atendido em 13 de dezembro de 1972, e, quem celebrou a missa foi um padre comboniano da já então paróquia de Santa Teresa (Hoje cidade de Presidente Médici), já que um telegrama do frei Mário, inviabilizou sua presença, logo transferida pelo mesmo ao padre Geovane. A missa aconteceu em frente à casa do senhor Antonio Teixeira (in memori), pai do atual vereador João Teixeira (também ex-prefeito), que ficava na Rua Bandeirantes, nas imediações da casa do referido vereador. Foi um dia de festa, com muitas bandeirolas, fato que veio a influenciar a que a rua acabasse adotando um nome relacionado à ocasião: Rua Bandeirante.

Com o aumento de fies no lugar, a Paróquia de Santa Luzia veio a ser criada em 1974, desvinculando-se da já Paróquia de Santa Teresa (Presidente Médici). O primeiro pároco da paróquia de Santa Luzia foi o padre José de Féo, o conhecido Padre "Zezinho". O atual pároco, José Raimundo Pinheiro, é o oitavo desta escala sucessória de párocos nesta jurisdição eclesiástica. Todos fizeram um ótimo trabalho de evangelização junto à comunidade, e não são poucas as menções de graças alcançadas por intercessão de Santa Luiza, em cada governo paroquial. Um ponto alto desta devoção “luziana” ocorreu com a ordenação do primeiro padre genuinamente luziense, padre Josimar, que mora no estado de Roraima.

A bonita história da paróquia, a participação influente da igreja nas questões sociais do lugar foi muito bem premiada pelo ex-prefeito Riod, que no ano de 2003, inaugurou para os devotos de Santa Luzia, um santuário com uma enorme estátua da santa, cartão postal da cidade e parada obrigatória de viajantes que passam pela Rodovia Federal Pedro Teixeira, estrada também conhecida como BR-316.
Por fim, a festa de Santa Luzia é uma festa anual, aguardadíssima, feriado municipal obrigatório, de acordo com lei da Câmara Municipal, que, aliás, apesar de ter cometido o ato de tirar a imagem da santa da bandeira do município, ato questionável pela maneira como foi feita tal arbitrariedade iconoclasta, permanece a santa representada na simbologia da nova bandeira na cor azul, que personifica a proteção de nossa santa padroeira sobre a nossa cidade, assim diz a lei municipal 169/2006.
Apesar destes pormenores, os padres Zezinho e Joaquim, no aniversário dos 25 anos de paróquia foram agraciados com o título de “Cidadãos Luzienses”, pelos serviços sociais prestados a comunidade, o que da parte do prefeito e dos vereadores foi uma atitude acertada a julgar pelo prisma do grande mérito que estes homens tiveram.
A conjectura do nome de nossa cidade dá-nos o gentíclio assim gerado oficialmente por lei municipal, a mesma lei 169/2006, que determina a criação dos símbolos da cidade e dá outros pareceres: santaluziense é o genticílio para aqueles que nascem em Santa Luzia do Paruá, sendo luziense, uma corruptela deflagrada pelo público desinformado sobre esse assunto.
sGlossário:
- Epônimo
n
Por Luís Magno Alencar

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